2008-04-18

foto&legenda # hors-série (o horizonte de Lorenz)

Que esperas?, a confirmação da tua convicção?, que sentes certeza e facto necessário de uma sequência. Para o destino, as tuas esperanças são inúteis. Podes possuir maços de tempo, acumulados pela experiência de virar as folhas de calendário, colecções de observações rigorosas, classificadas criteriosa e detalhadamente, um arquivo imenso de documentos. Tal não encerra o universo das coisas ou termina o futuro. Queiras ou não, uma gota de água é suficiente para, por um efeito de composição das consequências e dos impactos subsequentes, desviar os caminhos anteriores. Na verdade, por assim ser, continua a não saber-se mais sobre o que não se sabe. Ainda assim, rio-me quando chove e tu choras.
fotografia © Tiago Gonçalves
legenda © Sérgio Faria

2008-04-11

foto&legenda # 411 (a liturgia das sombras)

A perseguição acumula a memória, adensa o rasto. Não é necessário saber porquê. A vida é também uma tendência a confirmar o que é anterior, repetindo-se numa espécie de cumprimento dinástico, repetindo-nos nos rituais e nos écrans. A história vence-nos assim, pela denúncia, fazendo-nos simultaneamente a alegoria do destino e os legatários das sombras pelas quais nos revelamos. Se fingimos o fingimento é porque, vivendo, não podemos ser diferentes do que somos.

fotografia © Paulo Vaz Henriques
legenda © Sérgio Faria

2008-04-05

Dos ciclopes que são nossos

Com o rabinho a dar a dar de contentinho, replico aqui - e associo-me - a uma nota do Nuno. Parabéns e vénia ao Eduardo Barrento, por ter vencido o prémio fotojornalismo Visão/Bes 2008, na categoria «natureza». Vá, vão lá espreitar os mochinhos, ao fundo, à direita. E aqui há mais fotografias de bichos do Eduardo.

2008-04-04

Early morning, April 4th
shot rings out in the Memphis sky *

James Earl Ray primiu o gatilho já passava das seis horas da tarde. MLK morreu num dia assim, como hoje.

* versos da canção “Pride (in the name of love)” (in The Unforgettable Fire, Island Records, 1984), dos U2.

foto&legenda # 410 (como os dias caem no chão)

As tardes esgotam-se na penumbra que desvanece o incêndio trazido pela luz. Após o efeito de fade out, o negro que a noite deita e estende sobre as coisas desperta-lhes um sentido diferente. Nocturno, nada é como era. Porque nas coisas mesmas está a sua diferença também. É isto o que a cidade mais guarda.
fotografia © Pedro Figueiredo
legenda © Sérgio Faria