RETRATO AOS 70São já 70?
Não!
Foram já 70!São já setentas
(e se tu me tentas…)
São já setenta os anos vividos.
Sete décadas completadas
e na oitava entrei.
Como custa a acreditar!
… mas o tempo, na sua medida – que nossa é –
é assim: cruel, inexorável.
Às vezes, sinto-me como se vinte tivesse
e outros setenta aí viessem…
(quantos projectos!)
Só me falha o joelho esquerdo.
O resto tem sido corrigido,
e... se não fosse o joelho esquerdo outro galo cantaria,
lesto correria,
muitos golos marcaria,
ou “assistiria”,
ou nas minhas balizas evitaria.
Mas não abandonei práticas desportivas:
agora, iniciei-me hoquista
embora sem entrar na pista.
Enfim…
cá vou andando,
sem manquejar… e viva o velho!
A cabeça parece(-me) lúcida,
os pulmões e o coração
lá vão fazendo – bem! – a sua obrigação:
nada de bronquites,
nem de asmas,
só raras constipações;
controladas as tensões,
sempre boas as intenções
(faço parte dos “bons corações”)
Como e bebo sem grandes preocupações
e, depois,
cá vou dando destino ao comido e bebido,
com a próstata em tamanho aceitável,
sem diarreias,
sem obstipações
(embora obstinado me digam
onde só convicto e determinado me acho…)
Do outro lado – ou ali ao lado, ou ao baixo do ventre –
tudo bem quando bem e de pé é tempo de estar.
Não há senões,
nem casos para reclamações.
As pernas andam e correm
- o joelho esquerdo é que… –
e os pés assentam em qualquer chão
e em qualquer chão se firmam firmes,
sem calcanhares de aquiles
e aquelas dolorosas lembranças gotosas.
Mais!
Da carteira não me queixo,
tenho nela quanto é preciso quando é.
Nem de mais nem de menos
… embora, às vezes, de menos pareça.
Mas nunca me desleixo!
Em suma,
estou bem dos pés à cabeça,
e vice-versa.
Tenho é setenta!
Mas que importa?,
se ela, a minha lolita de quase sessenta,
tanto me tenta!
No Bom-Bom, ilha do Príncipe, 27 de Dezembro de 2005
(texto de Sérgio Ribeiro)
(montagem do Pedro Gonçalves,
sobre uma foto de Nuno Abreu e uma gravura)