2020-04-26

pisei o risco? laissez faire...

018-04-24

foto&legenda # 545 (laissez passer)


Aquilo que distingue alguém não é o facto de ter nascido ou de vir a morrer. O nascimento e a morte são contingências de qualquer biografia, sobretudo pormenores e preocupações da curiosidade cartorial. No intervalo entre o nascimento e a morte há bastantes passos para dar. É isso que arrelia muitos comandantes e escrivãos do futuro, haver quem insista em não desistir de andar, quem continue a desafiar o caminho que, por mania ou presunção, outros pretendiam fatal, função da vontade de deus. Há tanto tempo que caminhar deixou de ser em regime seja o que deus quiser. Os mais novos até vão ao ginásio com frequência maior do que a com que os pais ou os avós deles se habituaram a ir à missa. No horizonte já sobra menos do que o fim. Agora, força da continuação e da diferença que se quer, todas as horas são sempre agora e na hora da nossa morte outra vez. Daí que continuar a andar seja inaugurar a cada passo a potência de começar.
fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria/

foto&legenda # 546 (ein gespenst geht um in)


Há sempre alguém a tentar passar para o lado do sonho. A mão esquerda é a que acorda.

fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria (26-04-2018)

2020-04-25

foto&legenda # hors-série (a classe constritora)


Há aquela frase célebre escrita por Marx que justifica a paráfrase. Raramente a repetição é o mesmo outra vez, porquanto, na história, a repetição tende converter o trágico em farsesco. Pelo que o que se viu tantos anos antes, mil novecentos e oitenta e um, pode ser aperfeiçoado. A guerra continua fria, embora outra. É uma ilusão julgar que a classe constritora prevalece.
fotografia © Patrick Dermachelier / Vanity Fair
legenda © Sérgio Faria (25-04-2017)

2020-04-02

foto&legenda # 552+553 (frente palente)


Às vezes imagino-me com o encargo de limpar o nevoeiro, um erro que perpetro com frequência. Não vem mal ao mundo por isso, o que vem calha só a mim, acontecendo que não sou assim tanto mundo que justifique caso ou lamento. O que mais me impressiona no nevoeiro, que opera como uma gaze sem solidez, é o que o baço mostra, que é possível tornar indistinto ou invisível o que está ali, um prodígio sem autor. E que na maior parte dos dias o que sucede é que o que está torna invisível o nevoeiro. Ia para dizer que isto é uma ideia, talvez uma conjectura. É só imaginação. Não ver o que está é mais fácil do que ver o que não está. O precipício branco que se revela à saída.


fotografias © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria (11-01-2019)