Muitos dias são pêndulo, com ida e torna a este chão de partida. Aquele dia foi assim também, têmpera de rotina. O inverno resistia, a primavera falhava. A chuva crepitava contra o asfalto, fechando o horizonte num halo nebuloso, apertando o escopo do movimento de devolução da cápsula. Ao rasgar esse halo quase boreal, a cápsula, como um alazão de ferro, avançava num desafio de perda constante. O ritmo, embora de transgressão, não era suficiente para conquistar a frente. A cápsula deslizava por aquele corredor, comandada desde dentro. O horizonte baço apertava-se ainda mais no momento das ultrapassagens. Mas era pelas ultrapassagens que se ia removendo a distância à aproximação. Os outros ficavam para trás. E, à medida que ia aumentando o afastamento em relação a eles, o feixe dos faróis das suas cápsulas ia-se diluindo no retrovisor e perdendo a definição de perseguição. Entretanto, aproximando-se a chegada, há um custo a suportar por se ter corrido naquele corredor. O preço da volta, 6,65 €, é semelhante ao preço da fuga. Não discuto, mas peço recibo. Para confirmar que o regresso é um modo de destino pago.
legenda © Sérgio Faria
fotografia © Nuno Abreu
fotografia © Nuno Abreu
10 comentários:
eu cá não consigo imaginar melhor comentário que este para esta foto!
Eu também não consigo imaginar nada melhor.
Mas temos de partir para a luta. E esta é das que valem a pena. A da imaginação a ter de superar a imaginação (e a realização) que conseguiu o que não se consegue imaginar melhor.
G'andas sf e na!
Bem , se não conseguem imaginar nada melhor provavelmente a vossa imaginação é um bocado limitada, ó pseudo intelectuais...
Como diz o outro "falam, falam ..mas não dizem nada"
Pois!
Não conseguem melhor, mas pelo menos têm duas coisas que tu não tens: cara e nome.
Ou será que tens vergonha do teu nome?
puta fotografia!, ó parceiro.
e ó o pragmático!, puta imaginação a sua.
Este "pragmático" vem de outra estrastosfera (e não pagou portagem... porque é pragmático).
Como não entende o que por aqui se passa, deixemo-lo no seu anonimato e estimulemo-nos, mutuamente, as imaginações.
Pela primeira vez gostei de uma portagem!
Sem ela, não teríamos tido o prazer deste texto!
E que texto…
E que foto…
Penso aliás que esta belíssima foto respondeu da forma mais pragmática possível a este excelente texto. Parabéns Nuno e Sérgio.
Grande Foto!! Tb gosto do texto, aliás, gosto mesmo muito, mas a foto, que boa foto, é mesmo daquelas imagens a que não consigo ficar indiferente!
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