2007-09-25

foto&legenda # 352 (postal a um dono)


ao meu pai adoptivo

Tenho que ir. Não porque queira. Nem precise. Vou porque tenho que ir. São os odores. Chamam-me. Não os que emano. Os que trazem promessas. Hipnotizam-me. Promessas de me perpectuar noutros como eu. Os que me adoptaram sabem o que sou. Mas custa-lhes que parta. Custa-lhes não entender os odores. E quando não entendem, revoltam-se, chateiam-se. Devia ter deixado um aviso no lar adoptivo: cuidado com o dono.
fotografia © Pedro Gonçalves
legenda © Mário Abreu

1 comentário:

PG disse...

Gosto do desmembramento interior que fazes. Não é a primeira vez que te vejo vestir a pele do outro e adoro as perspectivas, quase sempre muito pouco óbvias, que escolhes.
O vazio e a tristeza que tenho pela morte dos cães deixou de ser tão grande. É esta a força das palavras e dos amigos. Obrigado Mário. Gostei muito. Mesmo muito.