A natureza é o absoluto que nos antecede, absoluto pelo qual somos necessariamente, somos no equilíbrio entre o que somos e as provas de contacto do que somos. Portanto somos sem saída. Quando da natureza vem muito mais do que as mãos, o que elas fazem e os frutos, quando vem a força que desabita e desola o chão, contam-se os mortos e recorda-se uma dúvida que o tempo foi fazendo esquecida: porquê o mundo é feito de destroços? Continuamos a não saber a resposta. O que sabemos é que quanto mais força é investida contra a natureza maior é o impacto que ela é capaz de devolver-nos em formas e modos que nunca conseguimos domesticar. Somos fracos, não somos sempre fracos, mas somos fracos. A natureza fez-nos assim, com inclinação à fraqueza diante dela. À semelhança do que sucede no combate entre os deuses e os mortais, no combate travado entre a natureza e os mortais são os mortais que morrem. Se há sobreviventes, não é o fim. Reerguer é o verbo que acorda com o luto e através do qual as pessoas são capazes de continuar, é o acto após o estupor que sucede à tragédia. Vêm as máquinas, vêm as mulheres e os homens. Permanece o contrato entre a natureza e a humanidade, contrato em que a cláusula da morte não está escrita em letra miudinha. Vêm as mulheres e os homens porque a remoção dos destroços não é ofício dos deuses.
fotografia © Paulo Vaz Henriques
legenda © Sérgio Faria
legenda © Sérgio Faria
1 comentário:
O texto faz jus à imagem que acompanha, ficando sem se perceber, se é o texto que acompnha a imagem ou se é a imagem que acompanha o texto!
Impressionante!
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