Este é o lugar da minha morte, tu sabes, eu sei. Não hão-de escrever poemas sobre isto, o que me parece a solução melhor. Um morto não tem vontade, faz como entenderes. Ou não faças, eu prefiro que não faças, que não faças agora e não faças depois. Peço-te apenas que cuides dos meus gatos, ganhei-lhes afeição, sabes?, coisas da natureza, da crueza da vida. Quanto ao resto. Para ser sincero, julgo que não há resto ou, se há, não quero saber. Basta-me estar aqui. Não, não tenho intenção de despedir-me ou de ordenar a lavragem de testamento, não tenho qualquer interesse em contribuir para a resolução dos conflitos entre vós. Fazê-lo para quê?, sois vós que continuareis vivos, o futuro é encargo vosso. Não te agrada, não é?, compreendo. Podes sempre ir fazer queixa ao sindicato. Dá-me cá um abalo ao pífaro.
fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria
legenda © Sérgio Faria
1 comentário:
Por acaso estive mesmo para agarrar nesta imagem e escrever um poema sobre isto. Mas depois disto, concordo que não o fazer seja a melhor solução.
(já agora, bela foto, belo texto)
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