2006-04-01

Isto dos blogues é o que é. Não é todos os dias, mas há dias em que é. Escrito isto, o que acrescento é para não me enganar.
As imagens têm um poder de suspensão extraordinário. Porque são menos dúcteis do que as palavras, as imagens tendem a ser mais leais em relação ao que capturam. As palavras são sobretudo ruído, estendem-se e conduzem pelo remisso, como um fio. As imagens são plataformas mais resistentes e suficientes. Onde o silêncio das imagens é bastante, as palavras têm necessidade de vibrar e conjugar-se. Talvez que não seja bem assim. Ou talvez até seja ao contrário. Mas, agora, isso pouco releva. Vou, portanto, ao caso.
O Nuno dá a volta a isto tudo. Faz batota no mesmo jogo em que eu me esforço para ser batoteiro. Sinto que ando a perder. Às vezes fujo dele. Falho-lhe a justiça que ele e as fotografias dele merecem.
O Pedro é outro. Não repito porque ele é com outro também. Às vezes sinto inveja. Vem-me aquele desejo de querer também as fotografias dele. Finjo que não pode ser. E finjo que esse facto não me incomoda.
E o outro? O outro, com idade para ter juízo, tem tanta paciência quanto o futuro que lhe arrebenta por dentro. Até chateia, nunca quieto, nunca calado. Ele na dele, eu na minha. Ou, mais exactamente, ele nas dele, eu nas minhas, algumas comuns, porque são tantas. Com o Nuno e o Pedro é o mesmo. E tudo isto se atravessa aqui, de modo mais ou menos invisível. Talvez pareça mentira. No entanto, não é.
As fotografias do Pedro incomodam-me. As do Nuno arrepiam-me. As legendas do outro, o velho, mandam-me para o chão e dão-me vontade de gritar. Não é sempre assim, está bem. Mas é assim mais vezes do que aquelas que me atrevo confessar. Nada disto interessa, claro. Isto é apenas um comentário, aqui, meu para mim, porque eles, a esta hora, madrugada quase aurora, estão a dormir e não sabem que há nevoeiro lá fora. Sim, há nevoeiro lá fora. Andei entre ele, a mexer-lhe com passos de noctâmbulo. Mas isto, reitero, não interessa.
Lavro este testemunho e empresto-lhe publicidade, aqui, por vários motivos. Á, porque estou bem disposto. Não há motivo para isso. Assim como também não há motivo para estado diferente. Mas a vida é o que é e já me habituei as estas oscilações. Bê, porque a simpatia me traiu e saiu. Não costuma ser assim, mas aconteceu que, desta vez, foi assim. Não quero saber porquê. Cê, porque sobre estes três gajos só consigo dizer mais isto, não há legenda para eles. Isto não importa, mas é justamente por tal que é importante e é importante escrevê-lo. Já quase por duas mil vezes almas várias passaram aqui os olhos à procura deles e do rasto deles.
Por isso, para quando acordarem e para que se saiba, ficam aqui, reservados, três abraços à urso para estes três companheiros, um para cada um. Fica um outro abraço da mesma raça para o Paulo, ali do lado daqui, companheiro com quem já fui às ventoinhas e a quem tomei, tanto impulsiva quanto consentidamente, duas fotografias, estampadas aí para baixo.
Sinto o diabo no corpo. É mentira. Mas é verdade. Nem sempre é assim.