À superfície todos os corpos são diferentes, com um desenho apenas seu, com uma pele exclusiva, não partilhável ou partilhável somente pelos sentidos, não pela comunhão. É sobre essa incomunidade dos corpos que se funda a singularidade - permita-se o pleonasmo, a singularidade de cada um de nós. Mas sob a superfície dos corpos percebe-se também um universo de invariáveis. Aí residem as mesmas fragilidades, os mesmos demónios, os mesmos sopros do mesmo sangue quente, os mesmos dispositivos animais. Os corpos, portanto, são também a cicatriz sob as suas tatuagens. Pelo que, em si, a variação que conhecem é a que lhes traz o vento. Enquanto corpos, é essa a sua única e derradeira unidade.fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria
legenda © Sérgio Faria
4 comentários:
A foto? a legenda? A legenda e a foto?
O conjunto. Tudo! Quase a perfeição. Talvez só uma ligeira melhor arrumação do texto, talvez não formatado, talvez...
Não há muito tempo, vi na Região Sul um Espantalho!
Pela primeira vez, via num campo de milho (!) um Espantalho, “verdadeiro”, cumprindo a sua função.
Alto, magro, calças coloridas e remendadas, um grande casaco, saindo de cada manga as mãos. Na cabeça um velho chapéu cobria-lhe o rosto, redondo, tombado, tão triste e cansado.
Registei o insólito encontro, com o clic da máquina fotográfica, “senti” um sorriso.
O Espantalho de braços abertos, sorriu para mim!
O Espantalho, é uma figura romântica!
Será pela beleza ou pela sua solidão?
GR
O meu fascínio por espantalhos é consequência de um sentimento quase de “amor/ódio”, ou melhor de “conforto/desconforto”.
Em relação aos corpos destes sinto uma unidade (a mesma fragilidade, os mesmos demónios, algumas cicatrizes comuns) que me assusta.
Para mim os espantalhos são figuras românticas (no sentido mais decadente da palavra) porque simbolizam um corpo inerte, incapaz de procurar sozinho novos campos, outros trilhos, novas variações... não só as oferecidas pelo vento.
Fóto e texto magníficos!
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