2010-03-23

foto&legenda # 460 (Tiger Woods não sabe nadar, iô)

Está on?, está a gravar?, então, com licença. Naquela história fomos todos diferentes, o mundo outra vez mas organizado de modo diverso, abaixo dos nenúfares, ainda assim tão perfeito quanto este, onde o mais estranho foi continuarem a ser necessárias as pernas para jogar golfe. Compreende-se que os tacos fossem flamingos e que as bolas fossem ouriços. Lá não havia a liga protectora dos animais, embora houvesse uma menina capaz de aumentar e diminuir de tamanho num instante e de falar com uma lagarta azul a fumar narguilé em cima de um cogumelo. Ouvi dizer que os cogumelos fazem bem à saúde. Mais ou menos, se os animais falam, como a Lúcia no céu com diamantes a ver uma senhora cintilante, como um sol, a dançar sobre uma azinheira. Esta é outra história e, como naquela, nela não se fala de bolotas. Mas podia. Consta que o Abóbora bebia muito. Talvez ele fosse dado a epifanias como a filha. A seco é que seria diferente, birdie, eagle, albatross, condor, consoante o número de tacadas abaixo do par.
fotografia © Elena Kalis
legenda © Sérgio Faria

2010-03-11

foto&legenda # 456 (a justiça pelos passos)

Isto não é uma história à beira-mar. Morreremos todos antes de chegar lá. Já ninguém espera que a justiça, qualquer que seja a justiça - portanto também a justiça divina -, já ninguém espera que a justiça seja proporcional. A vida é necessariamente um exagero, viver é um modo de exagerar. Todos os dias são a perfect day for bananafish. Passo sobre passo, passos largos, andar, andar, recuperar o poder dos passos perdidos. Nesta medida, que justiça poderia conter-nos?, que juízo poderia ser justo connosco?, se o juízo inicial é demasiado antes, se o juízo final é demasiado depois, se há sempre um passo mais a dar.
fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria

2010-03-01

foto&legenda # 459 (havia um pentagrama no altar)

Não, pá, não tens razão, não foi um, foram três. Um, dois, três, ora estica lá os dedinhos. À alemã começa-se a contar no polegar. E depois, como se o resultado do jogo não tivesse sido suficiente mau e evidente, naquele jeitinho dele, meio benfiquista meio Deolinda - as proporções podem não ser exactamente estas -, o mister Jesualdo veio dizer ainda somos campeões. Pois são. Mas o objectivo não é deixarem de ser, ficarem a ver o penta por um canudo, que era como já o andavam a ver há muito tempo. A missão não era levarem três secos de uma equipa orientada por uma tarântula de pinhal manso e permitir que uns tamboris dos arrabaldes da alameda das linhas de torres e que vão a massagens a Alcochete fizessem fosquetas junto à linha lateral como os símios expostos no jardim zoológico. Combate é combate, é sempre a subir. Aos outros, os tarantantans listrados em latitude, é que devia ter sido concedida a sorte da derrota. Mas, com um híbrido meio benfiquista meio Deolinda com o cérebro desenhado para conceber tácticas de curling usando como base os considerandos de Schröndinger sobre um tareco qualquer, fazer o quê? Perdemos bem, também disse ele. Uma manada de Gauríns arrumada para dançar ballet pode dar para perder, porém perder assim nunca é bem e sobretudo não é bonito, menos ainda contra onze gnomos que andaram para aí não sei quantas semanas a espraiar futebol de pacote e a levar para contar. Outrora no hectare servia-se tango, não espetadinhas de frango.
fotografias © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria