2011-10-17

foto&legenda # 485 (il y a beau temps qu’en ce lieu d’aisance)

É perigoso quando se começa a perguntar para onde vai a luz depois de apagada, porque as interrogações sobre o destino implicam orientações diferentes. Nos termos da máquina e da maquinação vigentes, o problema é mais do que a raiva trazida à rua e televisionada, é a alienação a deixar de funcionar como funcionava. O futuro já não é o que era, no entanto era sob a promessa lisérgica do futuro anterior, a esperança de redenção e felicidade amanhã, que havia a disposição a amaciar os gestos e a voz, esperar mansa e caladamente. Agora, cada vez mais a hora da nossa morte, perante o encerramento do horizonte e a liquidação da ilusão que o sustentava, esta é a sentença que se sente nos pulmões ao mesmo tempo que crescem as necessidade e vontade de gritar, l’air est devenu irrespirable.
fotografia © Paulo Vaz Henriques
legenda © Sérgio Faria
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A frase Il y a beau temps qu’en ce lieu d’aisance, l’air est devenu irrespirable faz parte de um texto de Raoul Vaneigem, “Banalités de base (première partie)”, publicado originalmente no número 7 da revista Internationale Situationniste, de abril de 1962. Em 1998, traduzida, foi utilizada como título de um álbum da banda Mão Morta.