2007-04-23

foto&legenda # 295 (sunset boulevard)

Damos voltas ao corpo, ao coração, aos olhos, mas é frequente acontecer a mesma rendição. Há quem lhe chame destino. Mas é provável que, pelo menos em alguns casos, também seja origem ou regresso.

fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria

legenda&foto # 20

debaixo da cidade somos nus,
onde a terra nos aprisiona
e são os lugares vazios.

legenda © serôdio d`o.
fotografia © Nuno Abreu

2007-04-15

foto&legenda # 294 (posto de encontro)

Recentemente foi testemunhada a disputa entre uma gaivota e um gato. Foi uma disputa estranha, sem vencedores. A gaivota comeu. O gato comeu. Mas, depois de já nada haver para comer, apenas o gato permaneceu no chão. A gaivota, essa, foi-se, alada, em direcção ao hospital Santa Maria.

fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria

2007-04-13

foto&legenda # 293 (faina)

Faço o trabalho de uma rendeira, bordados de linha, e são-me ásperas as mãos por causa das artes que hão-de tornar a conhecer o mar salgado e, pelo azar e pela sorte, tentar a carne que nele habita.

fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria

2007-04-12

foto&legenda # 292 (mar distante)

Trabalho a terra com mãos de pescador.
Das ervas daninhas faço algas marinhas
emaranhadas em redes ao meu redor
que me impedem de semear para colher depois.

E o mar tão distante.

Trabalho a terra ao sabor das marés.
De cada semente roubo o sabor a sal
diluindo-o na terra que, debaixo de meus pés,
vai perdendo a fertilidade que se pensava universal.

E o mar tão distante.

Trabalho a terra com os olhos postos na água
que longe transforma desejos em inevitável mágoa
quando o trigo permite ter pão à mesa
mas os sonhos são matéria flutuante.

E o mar tão distante.

fotografia © Nuno Abreu
legenda © Carmen Zita


2007-04-11

foto&legenda # 291 (a gare)

Dizem que morreu o vapor que fazia os demónios férreos correr pelas traves deste caminho. Dizem que agora já não há tabela, que aqueles demónios deixaram de passar por aqui, indício de que cada vez mais morremos devagar, numa forma de inferno quase quieto ou mesmo quieto. Aqui, diz-se, apenas o tempo não morre deixado, apenas o tempo não está preso, condenado a este chão, condenado a esta terra.

fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria

2007-04-09

foto&legenda # 290 (plasma)

Através do movimento somos como as personagens de eXistenZ, um modo traído de ser e de jogar o corpo, sem que saibamos qual é a coreografia autêntica e qual é a coreografia imitada.

fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria

2007-04-08

foto&legenda # hors-série (dos pés às mãos)




Todas as novelas, todos os episódios. Mas o que é que, entre a vinda e a volta do protagonista, foi confirmado?

fotografias © David LaChapelle
legenda © Sérgio Faria

2007-04-06

foto&legenda # 289 (a escotilha de retorno)

Às vezes a fuga acontece pela mesma fresta por onde acontecerá o regresso. O que faz da fuga o primeiro tempo necessário do reflexo.

fotografia © Paulo Vaz Henriques
legenda © Sérgio Faria

2007-04-04

foto&legenda # 288 (elegia do que não se vê)

Nihil obstat. Traz a evidência com cuidado. Se não conseguires, traz a miragem.

fotografia © Paulo Vaz Henriques
legenda © Sérgio Faria

2007-04-02

foto&legenda # 287 (as horas)

O tempo obedece a estações.
fotografia © Paulo Vaz Henriques
legenda © Sérgio Faria