Quando eu disse que queria ser um power ranger, tu disseste que era preferível ter uma espada laser. Eu acreditei e fiquei diante de ti como disseste, pequeno e desarmado. Depois cresci, quis ser como o robocop e tu disseste que isso, ser cyborg, estava fora de moda. Uma vez mais baixei os olhos, encaixei as mãos nos bolsos das calças, já não dos calções - que entretanto tinham deixado de servir-me -, embora, então, ainda que fosse evidente a minha rendição, tivesse desejado resistir e reagir à tua soberania. Não consegui. Dos teus olhos vinha uma força que me vencia. Enganaste-me sempre com a tua coragem. Por isso deixei de olhar-te nos olhos e, fingindo o triunfo, deixei de contar-te os meus medos também. O que, agora, admito, é o modo como continuas a prender-me.
fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria