2007-05-30

foto&legenda # 304 (let’s have bizarre celebrations)

Poderia ser a mesma cor, pontilhada, pedaços de vermelho arrumados, sugerindo a ideia de haver ali uma parede. Poderia ser como o silêncio, como o coro invisível das coisas que não se vêem. Ou, mais breve, poderia ser o lugar de uma menina, simplesmente uma menina, a contar histórias do cinema, a cantar canções da telefonia.
fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria

2007-05-28

foto&legenda # 303 (oriente lusitano)

E também havia aquela história que já ninguém conta, de quando brincávamos aos índios e aos cowboys e não sabíamos como funcionava a teelvisão. Então éramos tão inocentes, para a ferida, capazes de nos deslumbrar com os cartazes. Hoje já não, vemos tudo, mesmo quando não vemos. Transformámos os nossos altares, esquecemos a infância e o Badaró. Agora é evidência o que antes era jogo ou segredo. Sempre a perder.
fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria

2007-05-26

foto&legenda # 302 (o meu corpo de condorcet)

Que todos haveríamos ter várias peles, a primeira e as seguintes, e sob elas o mesmo sangue. Que todos. E que nunca isto fosse dúvida ou verdade necessária, porque já é de ser assim, sem necessidade, sob a nudez ser sempre uma carne.
fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria

2007-05-19

foto&legenda # 301 (sympathy for the devil)

Antes ou no fim, percebemos que o demónio encenado corresponde à figura que estava estampada no espelho em que nos verificámos a última vez. Afinal, o diabo será pobre ou rico, será triste ou contente, será aquele ou outro, como nós o somos, porque o somos.
fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria

2007-05-14

foto&legenda # 300 (domínio)

se derrubo este pão, falta-me o vinho
e a carne, permaneço entre os espectros,
sem reino. confesso o corpo quieto, mais quieto,
tomado na sua ronda e vigiado. confesso-o quieto
entre as sementes e os frutos, entre as águas
e a febre. confesso-o impelido pelo sangue,
rastilho ao ser, e, sem mais, não maduro,
com os pés sobre o chão, montando-o.

aí a terra gretada, também as arestas
onde o vento passa, lavrando, pelo sopro
em que vem, os flancos da seara. e é o corpo
quieto, ainda mais quieto, caminho
sobre o qual o vento continua.
fotografia © Pedro Figueiredo
legenda © serôdio d’o.

2007-05-11

foto&legenda # 299 (e pur si muove!)

Um lugar é uma equação semelhante à luz. Compreende-se melhor o seu eixo e a sua velocidade quando, sentindo, se descobre a rotação e os respectivos sentidos. Este é um dos caminhos possíveis. E não é engano mais certo do que qualquer outro.

fotografia © Paulo Vaz Henriques
legenda © Sérgio Faria

2007-05-09

Jogo de sombras

Quem é a sombra de quem?, os dois jogam (qual a sombra?, qual o homem?, qual o homem?, qual a sombra?), qual vai acertar com a raquete na bola?

foto de Nuno Abreu
legenda de S.R.

2007-05-02

foto&legenda # 297 (metropolitan)

Somos crucificados, a teia e a tela da nossa mortificação anónima, quotidiana e urbana.

fotografia © Pedro Figueiredo
legenda © Sérgio Faria

2007-05-01

foto&legenda # 296 (o arrasto)

Este é o limite da tensão, o jogo homérico, o corpo contra o espectro, o espectro contra o corpo, sem saber-se o que é que prenuncia o quê.

fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria