2010-11-19

foto&legenda # 475 (aparição)

Está frio. Parece que os americanos vêm aí.

fotografia © Paulo Vaz Henriques
legenda © Sérgio Faria

2010-11-18

foto&legenda # 474 (quatro por cinco)

De quatro não estão mais uns do que outros. Há apenas alguns que não querem saber e sentem-se mais de pé. Mais do que por ilusão, por necessidade. Que é para sentirem a anestesia que acompanha a queda. Já estão a cair, continuam, falta apenas a prova de contacto para dispensar a euforia e soltar a sensação da elevação perdida. Então perceber-se-á melhor a precipitação. Foi para o chão, os ossos assinalarão o impacto. Fora de jogo?, não há. A vida não é uma fábula em que há disso ou relvado para amortecer o choque. Pode fingir-se, cantar-se por cinco quinas, permitir o contentamento por conta de um quatro indefinido como se fosse um póquer de ases, havendo ainda um ás na manga, de reserva, que não foi necessário usar. Quatro, está bem. É o estilo que combina a quarta classe com a quinta dimensão, não dói. O royal flush vem já a seguir. É a esperança de quem não sabe interpretar a mecânica da combinação da taxa de juro com o spread. Fodidos, ó ié, mas por cima. Excepto das condições e das circunstâncias que chegaram há muito tempo, que não esperaram pelo prémio prometido. Mas quatro, não esquecer, quatro. Um sinal. À cautela, amanhã marcar também o número e a estrela no boletim, acrescentar uma aposta, se for necessário. Se deus quiser.
fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria

2010-11-05

foto&legenda # 472 (transumância, a volta)

Apesar de tudo é a portugal que voltamos, para ouvirmos as magistraturas da pátria e pastarmos nas pedras. Estamos no caminho bom, só falta começarmos a rir da morte para nos levarem a sério. Somos flâneurs, alguém esqueceu o cão lá atrás. Habitualmente não fazemos fila junto ao balcão, passamos em regime passing by, não tiramos senha. Uma de nós tem a mania que é do benfica ou da vanguarda, não sabemos do quê ao certo, só conhecemos o sinal. Voltamos para irmos brincar para a praia. Talvez um dia consigamos ver os tubarões sem termos que molhar as patas ou a lã. Os tubarões existem, não é?

fotografia © Paulo Vaz Henriques
legenda © Sérgio Faria

2010-11-04

foto&legenda # 471 (transumância, a ida)

Conduzir rebanhos para e desde os pastos é manobra que remonta a tempo anterior ao das cidades. Depois as cidades vieram e foram colocadas entre os rebanhos e os pastos. As mulheres e os homens vieram habitar as pedras trazidas para fazer as cidades, trouxeram os deuses, as ilusões e os fantasmas consigo, deram-lhes arrumações novas. Foram escritos poemas, salmos e manifestos, escritas canções. As cidades tornaram-se locais de passagem, lugares de sonho. Não é por acaso que os rebanhos continuam a passar, a ser levados para os pastos. Mas já não há éclogas ou idílios, há só atrasos.

fotografia © Paulo Vaz Henriques
legenda © Sérgio Faria