2006-09-29

foto&legenda # 176

A cidade é os seus espectros e os seus hologramas.
fotografia © Paulo Vaz Henriques
legenda © Sérgio Faria

2006-09-28

foto&legenda # 175

Por arte de enredo, em sucessões e lanços, a linha converge para o centro, amparo e sedução que confirma o cerco.
fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria

2006-09-27

foto&legenda # 174

Nascemos a voar. É por isso que não aprendemos a cair.

fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria

2006-09-26

FOTOLEGENDA - 53 (Moinho - 3)

O “Moinho” ainda está de pé! Ainda.
Ainda sobrevive, ícone de tantas memórias, com tantos parceiros já destruídos. Ao recusar a sua destruição “eutanásica” em nome de nada ou de coisa nenhuma, queremo-lo assim, bela ruína em estado terminal?
Não! O segredo da humanização das coisas está na sua conservação e na sua adaptabilidade sem perda de identidade.
Perdermos esta escada vista de cima, no meio destes tons em sintonia, deixarem-nos sem esta memória viva sem a substituir por algo que a continue, seria amputar-nos.

(foto de Pedro Gonçalves
legenda de Sérgio Ribeiro)

FOTOLEGENDA - 52 (Moinho - 2)


(foto de Pedro Gonçalves
legenda de Sérgio Ribeiro)

FOTOLEGENDA - 51 (Moinho - 1)

O homem que é fotógrafo, enquanto almoçava com amigos, foi ouvindo estórias de passados anteriores ao seu. Estórias de outros tempos oureenses, de “gangs” juvenis, de “west-side stories” em versão “bairro contra castela”, “índios contra faquires”, quando ainda não havia “war games” (e guerras reais) em televisões e telemóveis.
E ele, que é de um tempo de transição, ouvia como se estivesse a ver. Tal como o outro, que é este legendador, e cujo tempo de memórias é de antes, de muito antes, das “coboiadas”, do futebol de pé descalço onde viria a nascer a avenida, no largo em frente à cadeia onde havia um quiosque e um depósito de água e onde estão as escolas e um “buraco”, na praça da sardinha, e das vindas ao cinema, às quintas-feiras, em carroça a abarrotar de gente quanto a burrica aguentava.
Acabado o almoço, não resistiu, o homem que é fotógrafo. Lá foi até ao “Moinho”, cenário de algumas das estórias que ouvira. E fotografou, fotografou, fotografou. Tanta coisa fez reviver, e que aqui se procura fixar. Enquanto é tempo…

(foto de Pedro Gonçalves
legenda de Sérgio Ribeiro)

foto&legenda # 170

Assombração. A sombra, o sol. Ninguém carrega a cruz.
fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria

2006-09-23

foto&legenda # 169 (canção de bestiário, ii)

Em Animal Farm, de George Orwell, os sete mandamentos originais, conforme escritos no segundo capítulo, eram estes:
01. Whatever goes upon two legs is an enemy.
002. Whatever goes upon four legs, or has wings, is a friend.
0003. No animal shall wear clothes.
00004. No animal shall sleep in a bed.
000005. No animal shall drink alcohol.
0000006. No animal shall kill any other animal.
00000007. All animals are equal.
Depois do triunfo dos porcos, no capítulo décimo, ao último mandamento foi acrescentado but some animals are more equal than others. Na granja, foi a confirmação do império da excepção para os do chiqueiro.
fotografia © Pedro Figueiredo
legenda © Sérgio Faria

foto&legenda # 168 (canção de bestiário, i)

O meu nome é cisne. Quando crescer, verás.
fotografia © Paulo Vaz Henriques
legenda © Sérgio Faria

2006-09-22

foto&legenda # hors-série (parcelas, ii)

ao André Simões
Sabes?, aos trinta equinócios somos mais tudo, por sabermos que, antes de o corpo nos cair, ainda há e continua a vindima. Para o reconhecimento dessa continuação bastam os passos. Desses passos, o rasto é uma consequência, não uma direcção ou um sentido. Vamos. Vamos até ao último ângulo, até ao horizonte para onde o corpo se pronuncia em curva. É assim que nos continuamos. Ainda aos trinta e um e mais além.
fotografia © José Silva Pinto
legenda © Sérgio Faria

2006-09-21

foto&legenda # hors-série (parcelas, i)

O equinócio de Setembro traz o corpo a debruçado.
fotografia © Bert Stern
legenda © Sérgio Faria

2006-09-18

foto&legenda # 167

Chamam-lhe algemas para papel. Mas para o MacGyver é uma ferramenta para virar o mundo do avesso.
fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria

2006-09-14

foto&legenda # 164

Não nos vêem, os voyeurs, como nós os vemos. E vice-versa.
fotografia © Pedro Figueiredo
legenda © Sérgio Faria

2006-09-13

foto&legenda # 163 (exercícios de assimetria, i)

A base. A sombra. A rede. O cerco. O domínio. O cárcere.
fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria

e havia uma moça mal vestida

Sobre o acontecimento, o ciclope viu-a, olhou-a, apanhou-a e - clic, já está! - chamou-lhe uma figa, por ela ser melhor do que o Figo.
fotografia © Nuno Abreu
legenda estúpida © Sérgio Faria

2006-09-12

foto&legenda # 162

Now is the time to follow through, to read the signs
Now the message is sent, let’s bring it to its final end
*
Há madrugadas sempre a acontecer. A erosão das coisas, incluindo as coisas de pedra armada e montada, é o desgaste do acto investido na sua origem. Esse acto resiste através do corpo consumido das coisas. E resiste, enquanto sobra do tempo, sob a forma da decomposição desse corpo. Por isso, olha-se e vê-se, a memória é o destroço de um acto antigo. O que faz com que todos os corpos, mesmo os de pedra, morram como vestígios do acto que os erigiu. É isso a decadência. Porém, se há actos, outros, que sobrevivem, para quê, então, a memória? Para que os actos não se repitam apenas, esvaziando-se e apagando-se a si-mesmos pela recorrência. É que, sucede, em regime de amnésia as mãos tendem a não ter alcance de fundação. De redenção também não.
fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria
* versos da canção «A place called home», de PJ Harvey, incluída no álbum Stories from the City, Stories from the Sea (Universal Island Records, 2000).

2006-09-11

foto&legenda # 161

But you see that line there moving through the station?
I told you, I told you, told you, I was one of those
.
*
O dia começou como outro qualquer, mais um, de verão maduro, classificado, sob as coordenadas do calendário gregoriano, nine.eleven. Nessa manhã, repetindo a véspera, a ilha acordou e levantou-se com as suas duas torres, duas torres brancas, como as de um tabuleiro de xadrez. Cedo, porém, jogado de modo traiçoeiro e troiano, aconteceu um xeque a Manhattan, diante da estátua dos livres. As duas torres, 08:46:40 norte, 09:03:11 sul, foram tomadas por pégasos que, embora brancos por fora, estavam tingidos de negro no interior. A urgência consequente, resultado do aerogedão, dial nine one one!, confirmou as coordenadas desse dia no livro das infâmias memoráveis. Para que, todos os dias, entre a sua partida e o seu destino, ninguém esqueça quão difícil e ténue é a liberdade.
fotografia © Pedro Figueiredo
legenda © Sérgio Faria
* versos da canção «First we take Manhattan», de Leonard Cohen, incluída no álbum I’m Your Man (Sony Music, 1988).

2006-09-07

foto&legenda # 160

Digo, o sol já foi meu, como foi de Ícaro, mas agora falho. E digo, o chão foi a minha origem, o chão é o meu destino.
fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria

2006-09-05

foto&legenda # 159 (a embirração depois das inclinações)

Continuo a não ver a cabeça de Cristo. Estas palavras foram ditas sem qualquer tom de queixa ou de recriminação. Na intenção que lhes subjazia, bastavam-se como declaração e descrição exacta do que ele sentia. Não havia nelas um indício mínimo que sugerisse intranquilidade. Porque, em rigor, ele não estava perturbado, pouco que fosse, por continuar a não ver a cabeça de Cristo. Daí que, quando alguém insinuou a luz não é uma hipótese, é uma condição, ele tenha reagido. Não toques no interruptor. Deixa estar-me só com o meu tempo. Com a lâmpada apagada ele prentedia preservar-se fluído, no seu ritmo de gastar. Sabes?, a luz atrasa-me, faz sentir-me demorado. E eu não gosto das pressas que ela traz.
fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria

2006-09-02

foto&legenda # 158 (a única para além das três inclinações)

Ele disse a minha mão tem cinco pontas, é uma estrela, mas ninguém acreditou. O que preocupava os outros era uma espécie de poeira cósmica a que chamavam tempo, sedimentada sobre superfícies improváveis, guardadas por outras estrelas. Será que as estrelas de três pontas não seguram o tempo?, perguntou um dos outros. Sobressaltou-os, aos outros, a dúvida. E todos começaram a estranhar, por igual, tanto o chão em que assentavam os pés quanto o céu em que arrumavam a cabeça. Ele insistiu, a minha mão tem cinco pontas, é uma estrela. Mas, outra vez, ninguém acreditou.
fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria

2006-09-01

foto&legenda # 157 (a última de três inclinações)

Por que me olhas os pés?, esperas encontrar aí alguma verdade? Após esta interpelação sobrou um breve silêncio. Nenhuma resposta chegou. E, sob a canícula, outros gestos que viessem a haver demoraram. Até que o silêncio foi cortado por novas palavras. Louvo o chão, porque sobre ele é o quanto me basta. Mesmo o céu, qualquer ponto do céu, é sobre este chão. Aqui, onde tenho os pés e próximo, é o princípio de tudo.
fotografia © Nuno Abreu
legenda © Sérgio Faria