2006-04-01

legenda&foto # 10

Sobre a mesa, um mapa. Uma mão decifra a sua superfície, tacteando aí, com o indicador, alguns lugares. Esses lugares, porém, não têm o detalhe suficiente para a sensibilidade dos dedos. Sobre o mapa, um calendário. A mão parece vaga, perdida entre latitudes e longitudes. Suspeita-se que procura um destino que ela mesma não consegue reconhecer. Mas ainda não se confirmou esta suspeita. O que é um lugar? Sobre o calendário, um relógio. Um lugar é mais do que o encontro entre as grandezas cardeais do plano geográfico. Um lugar é também o ritmo que aí flui. A mão, pelo que aparenta, insiste em sondar o destino naquele mapa. As coordenadas ordenam-lhe a manobra como se fosse um jogo. Sobre o mapa, sobre o calendário sobre o mapa, ao lado do relógio sobre o calendário, uma peça de xadrez. A mão desconhece as fronteiras daquele território, desliza sem estorvo. Também não conhece as regras que disciplinam o trânsito aí. Sobre a peça de xadrez, guardando-a, uma mão fechada. Sabe-se, pela ironia, que o destino é o tempo, o ritmo que flanqueia e fecha as coisas. Mas a distância para que sempre se leva afastou-o, tornando-o intangível. Por isso, enquanto uma mão preserva a sua posição, defendendo, fechada, o apoio da peça de xadrez, a outra mão perde-se sobre o mapa, porque não é aí, mas na terra mesma, o destino que procura.

legenda © Sérgio Faria
fotografia © Nuno Abreu

5 comentários:

Anónimo disse...

da-se!, ó parceiro, puta ilustração.

Sérgio Ribeiro disse...

Ó parceiros, isto está mesmo a dar... no osso, n'é?
Putavida...
Às vezes, a paciência falta, o cansaço chega, a tristeza parece querer tomar o corpo todo, mas... é preciso sacudir, é preciso que a raiva cresça e a esperança se multiplique!
Disciplina, porra, que aqui não há obedientes (bolas, isto é de outro filme...)

Nuno Abreu disse...

amigo sérgio, (o ribeiro) até parece que é bruxo, lagarto, lagarto, lagarto.
tá a dar no osso e com força, que até me obriga a saltar da cama às 7 da madrugada de sábado.
raios partam as dores do "róimato".

Sérgio Ribeiro disse...

beiroIsto está complicado!
Que raio de equipa havia de arranjar (nesta idade...)
Um diz mata, o outro nem diz esfola, esfola logo.
E parece que funcionamos por turnos. Um salta da cama a hora a que outros para a cama saltam.
Porra que isto vai longe!
Cheguem-lhe no osso!

Anónimo disse...

pá, isto com roteiro, explicado pelo Nuno, é muito melhor. ampliar a fotografia ajuda. ele é o sinal de via sem saída à esquerda. ele é a espécie de peão sobre o canto esquerdo do muro. ele é o sol e o relógio sobre o portão. ele é o lugar do nosso destino. ele é muito mais. mas mais não escrevo, porque não me lembro. embora assuma que, sem a gramática de decifração do autor, a minha miopia não permite alcance tão adiante. a minha vergonha fica aqui.