2006-05-04

LEGENDAFOTO - 10

Na descida da estrada da Alvega
Depois de passarmos o quilómetro 110, e de espreitarmos os Castelos ao longe, rolamos mais cinco quilómetros e viramos à direita, deixando a auto-estrada. Atravessamos a fronteira da portagem e julgamo-nos chegados “à terra”.
Ilusão. Ou adiamento.
Ainda temos uma rotunda, e hotéis, e restaurantes, e conventos, e seminários, e escolas, e lojas, algumas a armarem ao pingarelho (como diz, e bem, o outro), e parques de estacionamento e estacionamentos sem parque, e mais hoteis e mais lojas, numa confusão urbana a que não faltam cúpulas bizantinas.
Viramos à esquerda, subimos a pequena rampa, atravessamos um cruzamento onde já, numa noite de sábado, apanhámos com um carro a entrar pelo nosso adentro, e, de súbito, deparamos com uma daquelas paisagens que, por mais que as vejamos, sempre nos surpreendem. Ou por a luz ser sempre diferente ou porque sempre diferentes estamos nós.
São os Castelos. Pois… de novo, os Castelos de Ourém, ao fundo, discretos mas imponentes, e as "nossas montanhas". Tudo em relevo, em sobe e desce “à nossa medida”. Tudo num todo harmonioso a que algumas construções insólitas, embora provoquem irritação pela ostentação e clara agressão ao ambiente, não conseguem roubar o nosso encantamento.
Fazemo-nos à descida, às curvas e contra-curvas – nada como na “estrada velha”... –, até à rampa íngreme, quase assustadora, que desemboca em viragem num cotovelo fechado em manguito.
Esquecemos a paisagem. Ela rodeia-nos, não nos confronta. Mais curvas e contra-curvas, calmas, nos baixios cortados e aplanados da serra, até apanharmos pela frente com uma outra paisagem sempre surpreendente. Do alto, da direita, desce a encosta, em declive suave, arredondado, que se intercepta, no horizonte da estrada, com a encosta que, da esquerda, do alto, desce, em declive suave, arredondado, como se houvesse ou assemelhasse simetria. E, ao fundo, num segundo plano, a modos de ali colocado para ser assim visto, o morro dos Castelos e da velha Ourém, como um painel que nos diz, então sim, “estás em casa!, sê bem-vindo!".

foto de Pedro Gonçalves

para legenda de Sérgio Ribeiro

3 comentários:

Anónimo disse...

Esta é uma das "legendas" mais belas que li até hoje. Perfeita. Para quem não conhece Ourém, para quem não sabe do que fala Sérgio Ribeiro, acreditem, é mesmo isto que um oureense sente, ao chegar a estas paragens, depois de uns (nem que seja só um) dias fora.

Anónimo disse...

Bonito....

Anónimo disse...

Muito bom!!! Deixei-me levar pela descrição...
Apenas um adjectivo: Fantástico!