2007-01-24

foto&legenda # hors-série (comics express)

O medo é uma ideia. Apagada a ideia, o medo apaga-se também. Apaga-se em visibilidade, não em existência. Isto é, ao apagar-se a ideia, o motivo do medo deixa de estar visível, guardando-se diante de nós, mas como se tivesse sido recolhido na rectaguarda, numa posição que nos é anterior. Anterior a nós? Não, não faz sentido que seja assim. Porque isso seria domiciliar o motivo do medo nas nossas costas. Ou debaixo da nossa cama. Ora por que haveria o medo estar nas nossas costas? ou debaixo da nossa cama? Por que haveria o medo ser uma ideia? Tudo é ideia. Mesmo o que não é ideia, assim definido, é uma ideia. Nada é ideia, uma ideia. Concerteza. Mas isto, tudo, posto assim, para quê?, porquê? Para além de ser demasiada metafísica para uma banda desenhada, os fantasmas não são criaturas que mereçam tanta solenidade. Bem, pelo menos, é o que parece. Sim, claro, os fantasmas. O que haveria de ser?, o medo?, a ideia? Não é possível fotografar espectros como se fotografam ideias ou medos, pois não? Isto é, o que interessa o que é?, o que interessa o reflexo do que é? Uma fotografia, mas uma fotografia para quê? Sei o nome detalhado, quase que poderia dizer científico, de todos os tipos de alicate. É uma ideia. Isso assusta-te? Deveria assustar. Também sei manobrar moto-serras. Tu tens a mania que és ciclope. Olhas-me com um olho só e clic. Mas uma moto-serra mais facilmente corta carne, a tua, às postas, do que corta madeira. Isso assusta-te? Deveria assustar. Um homem tem as suas condições. Por isso, é bom, tão bom quão conveniente, que tenhas medo, que aprendas a ter medo. E depressa. Não, não é uma ameaça. Por que é que haveria ser uma ameaça? Não, não é uma ameaça. Tão pouco é uma ameaça velada. Olha, diz-me, já te disse que sei o nome de todos os tipos de alicate? Falei-te da moto-serra? Pode ser que.
fotografia © Jacques-Henri Lartigue
legenda © Sérgio Faria

3 comentários:

Anónimo disse...

Textos destes não podem morrer aqui. Merecem outros e novos e diferentes destinos que não o de fugaz mostra em passageiro post de pouco visitado blog.
Este senhor que os escreve tem um lugar que outros imerecidamente (pelo menos em valor relativo) ocupam, e de que ele parece estar totalmente desinteressado.
Isto tem de ser oureanamente visto já que ele, esse senhor, sozinho estar-se-á nas tintas...
Vai escrevendo... e pronto.

Falei-te das teclas do computador, oh senhor Sérgio Faria? Pode ser que não. Sabes mais delas que de moto-serras, por muito que de moto-serras e de alicates conheças.

Anónimo disse...

pá, não é necessário exorbitar. o textículo é apenas um recado para eriçar, de temor, o sinhor dom Nunio Abreu. que não sabe, não quer ou outra coisa qualquer as condições que, por manias que são lá suas, um rapaz afirma e estabelece.

Nuno Abreu disse...

quem tem manteiga no lugar da carne, não tem medo de moto-serras!