2007-02-13

foto&legenda # 257 (corpinquieto)

Um dos lugares da nossa condição é o interdito que fez a esposa de Lot transformar-se em relevo salgado. À saída não pode olhar-se para trás. Tanto a nostalgia quanto a saudade, porque modos de rendição, constituem crimes contra o regime do tempo, contra o futuro. É necessário continuar, não deter a marcha, porque parar é confirmar a culpa e merecer o castigo. Daí que, através da aceleração do passo e do compasso, se tente o disfarce. Mas, por mais intenso que seja o ritmo, não é possível inaugurar caminho contínua e permanentemente. Mais tarde ou mais cedo, por contigências das coisas e da sua economia, os passos começam a repetir-se, a cair sobre o mesmo chão, como se obrigados a uma identidade ou proximidade. Até que, após tantas voltas, pela repetição quedamo-nos quietos, estátuas, a sombrear a água também quieta sob nós.
fotografia © Paulo Vaz Henriques
legenda © Sérgio Faria

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