2009-08-16

foto&legenda # hors-série (das continuações, xxv)

Imagino o diabo a dançar, a fugir-me do corpo e a levá-lo. Imagino os passos, a performance, imagino-me quase um centauro e a combinar-me somaticamente com o chão. Danço mal, mas na minha imaginação posso e consigo dançar bem. O esforço é pequeno e compensador. Necessito de deslumbrar-me a mim, a mim apenas, ninguém mais. __________ Continuar faz-me consciente do fluxo em que participo. Desvio-me muitas vezes da ausência, uma certa ausência, e persisto na consequência do que sou, partilhando o amanho de condições que não dependem de mim, que não controlo ou sobre as quais tenho um impacto remoto. Não confio nas disposições ou na vontade. Admito contingências, as interiores e as exteriores. Ouço sete diabos, dançam num cabaret, e constato que não tenho numa mão ou num pé o número de dedos suficiente para contar tantos diabos. Imagino o diabo a dançar, imagino sete diabos, uma coreografia para a minha fraqueza. _____ Nunca fiz planos para dominar o mundo, bastou-me sempre a sensação de ser capaz de perder-me no lugar que habito, pelo menos até ao momento em que vingou em mim a precisão de continuar. Provavelmente precisão de continuar a perder-me onde estou, onde posso estar.
fotografia © Stephen Dewhurst
legenda © Eliz B.

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