2011-01-31

foto&legenda # 477/478 (panóptico)


Às vezes parecem ou acreditamos que sejam máquinas, aquelas máquinas. A pose grave que adoptam e com que se apresentam - e representam - reforça tais parecença ou credo. Passam, passa a companhia também, numa mecânica em que não é possível saber quem acompanha quem. Fazem discursos sérios, em escalas sérias. Não são como nós. Mas também não os imaginamos de espécie diferente, quase mas não com o mesmo genoma, tipo orangotango ou Lucy coelheira. Tendemos a acreditar na possibilidade humana, no que podemos por nós ou através deles, que é outro modo de sermos. Quase sempre é menos o que podemos do que o que cremos poder por nós ou através deles. É difícil prescindir deste eles, dificuldade que não promana da gramática. Conhecemo-nos o suficiente para sabermos que há uma diferença. O plural e os plurais suscitam o engano. Não somos capazes de passar para o outro lado do espelho. O que vemos?, vemos os dois sorrisos do rei, como dois são os corpos dele, segundo Kantorowicz. O que vemos mais?, vemos que nos estão a ver. Talvez a ver mal, o que - seja na hipótese, seja no facto - é problema mais nosso do que deles.

fotografias © Paulo Vaz Henriques
legenda © Sérgio Faria

2 comentários:

Anónimo disse...

Lucy coelheira.Genial. LOL.

MA

POliveira disse...

Essa é mesmo genial. :)