2008-06-07

foto&legenda hors-série (das continuações, v)

Sabes?, às vezes ouço a mesma canção tantas vezes seguidas que fico sem motivo para dizer o que quer que seja. Não sei se é normal e não sei explicar muito bem. Sento-me no chão do quarto, contra a porta. Esta é a posição em que fico. Ao princípio ouço a canção uma, duas, três vezes, com muita atenção. Após ouço-a mais três, quatro vezes, para descobrir-lhe os pormenores. A partir de determinado momento começo a ficar anestesiada e a sentir uma voz a roçar-se dentro de mim, a perguntar-me se eu sou uma deles. Mas a voz é em inglês, are you one of them?, assim. Eu não respondo. Naquele momento já estou sem palavras. Esgoto-me assim. E continuo a ouvir a canção, mais vezes, mais ainda, até ela ser uma parte do meu corpo, mais do que uma parte de mim. Estás a perceber? O mesmo repisado e repisado, instalando-se na minha carne, camada sobre camada, sem dor e sem resistência. Acolho totalmente a canção. E o que é mais estranho é que este processo faz sentir-me simultaneamente rendida, porque fico exausta, e fortalecida, porque sinto-me preenchida com a força da canção. __________________________ Não, não, eu só faço isto quando estou sozinha. Preciso da solidão. Começo em mim e depois prolongo-me, primeiro dentro do que sou, a seguir no quarto. É uma sensação estranha, mas não é uma sensação má. Eu gosto. Tanto que repito com outras canções. Canções tristes.
polaróide © Olive e Rose
legenda © Eliz B.

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