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Antigamente era a produção artesanal, a manufactura. A vida demorava mais. Agora a vida é uma indústria, uma fábrica de teelnovelas. Várias todos os dias, todos os dias santíssimos, de manhã, à tarde e à noite. Muitas não vemos - são tantas, chiça - e outras são repetidas, reposições. O que fazemos? Depende do tempo e da disposição. Mas a maior parte das vezes ficamos a ver o que acontece e a imaginar o que poderia ou pode acontecer. O natal é muito isto também. Um costume com teelcomando. O presépio, as luzinhas, o pai natal pendurado numa parede exterior como um meliante mesmo a jeito para levar uma chumbada de uma espingarda de ar comprimido, o bacalhau com couves sobre a mesa, o bolo rei ou - se o gosto for outro - o bolo rainha, as filhoses, a família reunida, a lareira acesa, a missa do galo e a ânsia das crianças que esperam as doze badaladas. A histeria natalícia dos cachopos é uma constante das últimas gerações, pode dizer-se. Aquilo da peúga para receber os pacotes embrulhados com papel bonito, às cores, e com laçarote ou lacinho é que está meio fora de moda, não está? E os filmes antigos?, alguém se lembra dos filmes antigos? Na noite de natal a teelvisão devia passar mais filmes desses, dos anos quarenta e cinquenta e a preto e branco. Para não estarmos a ver sempre a mesma coisa, o filme habitual, vezes e vezes sem conta. Ou o caraças.
fotografia © Pedro Gonçalves
legenda © Sérgio Faria