2014-05-29

foto&legenda # 524 (sobre a cegueira e outras incapacidades)


Olhar. Não ver. Não ver em braços apenas braços. Não ver em mãos apenas mãos. Não ver em apertos apenas apertos. Ver. Ver a unidade que ultrapassa e habita através do contacto. Ver o trabalho que está apagado para que no momento, aquele, inteiro e limpo, campeão, olé, campeão, olé, se veja sobretudo a festa. E quanto isso custou para que se veja melhor o que foi ganho. Ver ainda que há obras autenticamente sem dono e alegria nisso, sem ser preciso fingir inocência. Abrir os olhos. Abrir os olhos outra vez. Há sempre quem não queira ou não consiga ver. Há quem demore a abrir os olhos. Não há que fazer demorar a festa por causa disso. É próprio das festas, inclusive das que se repetem, serem feitas por quem está e onde se está, não por fantasmas que não vêem, não vêm e não são capazes de atravessar as portas que não abrem.
fotografia © Nuno Abreu / Notícias de Ourém
legenda © Sérgio Faria

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