2006-03-19

FOTOLEGENDA - 9

(foto de Pedro Gonçalves)

Ai vai foto… venham palavras, disse ele.
Mas quais?
Barco?, pescadores?, mar?, molhe?, farol?
Gaivotas?, talvez...

O barco, pequeno, modesto, é também o barulho, trec-trec, e são também os cheiros que a foto não mostra mas as palavras podem sugerir.
E há pescadores a bordo, saindo para a faina. Não se vêem, mas estão lá. Senão o barco não andava, não havia aquela espuma branca que diz que ele vai a caminho, cortando as águas. Preparadas as redes, comida a refeição mata-bicho, beijada a mulher e os filhos, lá vão eles, os pescadores, esperando boa pesca. E elas ficam, esperando o regresso.
O mar parece calmo, chão, como dizem em palavras suas.
Aliás, nas fotos está o mar sempre parado, como se apanhado distraído ou querendo enganar-nos (como são belos os pores de sol por detrás do mar calmo, parado e, no espaço entre quem tira a foto e o horizonte quem sabe quantos naufrágios haverá?). Porque mar é – sempre – surpresa e engano. Dá-lhe cada coisa às vezes… Oxalá que desta não. A velinha ficou acesa.
O molhe são pedras, arrumadinhas, compactas. É trabalho, é o humano a moldar a natureza de que faz parte. Para cortar ímpetos, para amainar raivas e evitar repetições do que faz a história de tanta povoação ribeirinha.
O farol lá está. No lugar onde o puseram e para cumprir a missão que lhe deram. Quase mítico, com a sua torre, a sua luz que roda, avisa e encaminha, Quase humano. Estou aqui, não vão por aí! E quantas histórias de faróis, feitas de fotos e de palavras!?
Mais palavras? Talvez… gaivotas. Em voo debandado, a ver a partida. Não há nada que lhes cheire. Talvez no regresso… E então o voo será baixo e em volta, como guarda de honra e passadeira vermelha. Bom trabalho!, trouxeram-nos que comer.

A ver vamos. Haverá mais foto? Do regresso da faina?

(palavras de Sérgio Ribeiro)

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