2007-06-04

foto&legenda # 306 (a senda do avesso)


não estou a pensar, porque não posso pensar.
também não sei as minhas mãos, perdi-lhes
o controlo e o consolo. não é a derrota ainda,
é o seu prenúncio apenas, a sua antecipação.

um dia habituamo-nos a procurar atrás
das coisas e, se têm paradeiro desconhecido,
é aí que as vamos procurar, insistindo
na sua sombra. a habituação à perda
necessita desta manobra. é um acto fácil,
para o desperdício. não é distante do corpo,
não lhe é estranho. aliás, quando aí se habita,
o silêncio transforma-se em lugar, um lugar
estranho como o passado sobre o qual escreveu
l. p. hartley, the past is a foreign country:
they do things differently there
. e depois?,
sim, depois, que fazer?, esta é a pergunta.

regresso. a embriaguez que me embala não é
um barco. também não é inveja. eles são novos,
com o corpo permanentemente acordado. é o seu
primeiro amor, cada dia é seguro, sentem-no.
mas um dia, próximo, habituar-se-ão a procurar
atrás das coisas, a espreitar onde estão as sombras,
as mesmas que já consigo ver.
fotografia © Paulo Vaz Henriques
legenda © serôdio d’o.

2 comentários:

Anónimo disse...

... mas um dia, próximo, habituar-se-ão a procurar
atrás das coisas, a espreitar onde estão as sombras,
as mesmas que já consigo ver.

Anónimo disse...

DEsculpem perguntar, mas quem é Serôdio d'o.?